sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A escola e o gosto pela leitura*



Antônio Wanderley de Melo Corrêa**


A escrita alfabética teve sua origem há aproximadamente 5500 anos. Entretanto, ainda hoje, na maioria dos países do hemisfério sul, incluso o Brasil, muitas centenas de milhões de pessoas não dominam a leitura e a escrita.
            De acordo com o Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada pela ONU em 10 de dezembro de 1948: “Todo homem tem o direito [...] de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentes de fronteiras”.
            A Constituição do Estado de Sergipe afirma que é dever do Estado “garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes de cultura” (Art. 225, Pa. IV).
Assim, é concedido ao cidadão, seja local ou planetário, o direito de dominar a codificação da palavra escrita como “ferramenta para compreender o mundo”. Portanto, trabalhar e lutar contra o analfabetismo constitui-se em práticas cidadãs.
            Os avanços implementados pelo Estado e pela sociedade brasileira, no que se refere à diminuição das taxas de analfabetismo, são inegáveis. Mesmo assim, os números das estatísticas ainda são motivos de vergonha nacional. Números que não levam em conta os chamados analfabetos funcionais, aqueles que lêem e escrevem, mas não conseguem entender o texto lido e não transformam o que pensam em escrita.
            Em nosso país é voz corrente que o brasileiro não gosta de ler. Paradoxalmente aqui se encontra o segundo maior parque gráfico da América. Guardando a relatividade da primeira afirmativa, a mesma possui fundo de verdade.
            Observando o passado colonial, imperial e das primeiras décadas da república, a Terra Brasilis constituía-se em verdadeiras sociedades de analfabetos, em proporções equivalentes às sociedades européias medievais.
            Mas o que teria gerado o contragosto, a ojeriza do nosso povo pela palavra impressa, além de fatores históricos? As telinhas eletrônicas com suas mensagens e informações superficiais, apresentadas no ritmo de 300 km por hora, estimulando a preguiça mental coletiva? Os preços das publicações, incompatíveis com o nível de renda da maioria da população? A falta de tempo gerada pelo ritmo alucinante da vida urbana contemporânea? A escola, que não estimula o suficiente ou corretamente as nossas crianças e jovens ao hábito saudável da busca do entretenimento, da informação e do conhecimento através do texto impresso?  A falta de incentivo e de exemplo no ambiente familiar? Perguntas para a reflexão.
            Por motivos óbvios, a escola é um espaço por excelência para o desenvolvimento do gosto pela leitura e pela escrita, embora não seja a única responsável por tão grandiosa tarefa.
            Neste sentido, muitos educadores vêm realizando experiências com resultados excelentes. Conseguiram romper com o exclusivismo do livro didático e do romance, enquanto leituras do processo de ensino\aprendizagem. O princípio básico dessas experiências é o respeito aos múltiplos gostos e interesses dos estudantes, sejam crianças e adolescentes ou jovens e adultos.
            Crianças na fase da alfabetização são apresentadas aos livros infantis; jovens de famílias com acentuada cultura religiosa são estimulados a lerem obras compatíveis com suas crenças; adolescentes românticos/as são induzidos/as a apreciarem poesias e contos do gênero; jovens extrovertidos se identificam com o cordel ou com livretos de anedotas; os aventureiros folheiam revistas em quadrinhos e livros de ficção científica; os desportistas são induzidos a mergulharem os narizes nas revistas e cadernos de jornais especializados em esportes; garotas que realizam atividades domésticas consultam livros de receitas de culinária; alunos que participam de cursos profissionalizantes buscam utilidade em fascículos técnicos. E assim por diante.
            Utilizando como base os diversos gêneros e temas de textos impressos, os educadores incentivam seus alunos a produzirem seus próprios textos baseados nas experiências das leituras, como meio de fixarem na mente e democratizarem as experiências pessoais para os demais colegas, além de ampliarem a capacidade de escrever.
            As redações podem ser lidas na sala de aula, motivando a desinibição no falar em público e a prática da leitura fluente.
            Outro recurso que ajuda a instigar estudantes ao gosto pela leitura é a criação de murais que se constituirão em espaços democráticos, contemplando os seus diversos interesses e motivações, contendo as mais diversas temáticas, levando em conta o contexto social e cultural da comunidade na qual a escola se insere. A garotada expõe, em secções específicas, seus trabalhos escolares; recortes de matérias de jornais e revistas, seguidos de comentários próprios; poemas e recadinhos; protestos e sugestões, entre tantas outras contribuições. O mural é um espaço interativo, de estímulo constante na busca do conhecimento através das práticas da leitura e da escrita. 
            A promoção de feiras de leitura na escola é outra atividade recomendável, quando ocorrem trocas de livros e impressos das mais variadas formas e gêneros. São ainda organizados concursos de redações, contos, poesias e outros escritos. Eventos como esses movimentam positivamente a escola, eletrizando a estudantada e animando os professores.
            O maior volume e aprofundamento do conhecimento encontram-se no texto impresso, nos livros. Quem possui o hábito da leitura, raciocina mais rápido, tem mais conhecimentos, idéias e criatividade, adquire riqueza vocabular e fala com mais elegância, escreve com mais fluência, enfim, se torna mais inteligente. Portanto, os educadores não devem medir esforços no sentido de estimular as novas gerações a irem adquirindo o gosto pela leitura e pela escrita.
Ler é descobrir universos, desvendar segredos da existência, aprender a história que a vida não para de escrever.

*Artigo publicado no Jornal da Cidade de 01 ago. 2002. Cad. B, pg. 06. Revisado em 10 out. 2010.  
** Licenciado em História pela UFS e professor das redes públicas estadual (SEED) e municipal (SEMED/PMA)
  

sábado, 12 de novembro de 2011

Os saberes do professor de História*

Antônio Wanderley de Melo Corrêa**

                         É excitante e ingrata a condição de professor de História, e ambas as sensações ocorrem pela infinidade de conhecimentos e conteúdos que se tem que dominar e transmitir, não somente históricos de muitos grupos humanos e povos em todos os tempos, mas também de outras ciências afins ou “auxiliares” da História. Acrescentando-se a isso, o conhecimento de teorias e práticas antigas e atuais no campo da Didática e da Pedagogia. Tamanho desafio acabrunha e/ou estimula o professor de História.
            Lembra Paulo Freire: “Nada que experimentei em minha atividade docente deve necessariamente repetir-se” [FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 55], aludindo à necessidade constante de auto-aperfeiçoamento, reflexão e evolução das práticas educativas do professor, levando em conta a permanente transformação da realidade e as consequentes novas demandas e desafios da educação.
             O estudo é, ou deveria ser, atividade inerente ao educador, afinal não há ensino sem pesquisa. “O que há de pesquisador no professor não é uma qualidade [...]. Fazem parte da natureza da prática educativa docente a indagação, a busca, a pesquisa”. [FREIRE: 1998: p. 32].
            Existem muitos casos de professores de História que se encontram desatualizados, ou seja, mal informados ou repetitivos. Consequência do avanço constante da ciência histórica e da falta de estudo permanente. Mas estudar o quê? Já que “tudo é História”? Devem existir critérios de seleção no que se refere ao pesquisar, o que é fundamental e mais interessante para o professor e seus alunos.
            O conhecimento é como o universo, infinito e em constante expansão, mesmo em se tratando de uma área específica e compreendendo o conhecimento histórico como o mínimo de que realmente aconteceu.
            Além dos conhecimentos fundamentais sobre os grupos e povos do passado, de suas criações e transformações políticas, sociais, econômicas, culturais (artísticas, gráficas, de costumes, religiosas e tecnológicas). É imprescindível o professor de História adquirir conhecimentos geográficos e dominar, com desenvoltura, a leitura cartográfica enquanto fatores indispensáveis para a compreensão geopolítica do processo histórico e para situar seus alunos no “palco da História”, localizando e identificando as peculiaridades físico-ambientais das áreas ocupadas pelos povos ao longo do tempo.
            O conhecimento adquirido pelo profissional de ensino da História durante a sua vida acadêmica não é o bastante. Este é ponto de partida, logo, é imperioso o esforço de o mesmo se manter informado sobre novas descobertas de fontes históricas e de publicações recentes de sínteses  históricas (pesquisas produzidas por historiadores), acompanhar, na medida do possível, o desenvolvimento das ciências afins, a saber: Arqueologia, Antropologia, Geografia, Sociologia, entre outras.
            A busca de novos e antigos paradigmas didático-pedagógicos também se faz imensamente necessária à prática educativa. A teoria ilumina o caminho profissional e ajuda a organizar a prática educativa. O professor não ensina por ensinar, mas sim, educa para algum objetivo político-ideológico, tendo consciência disso ou não. O professor não forma autômatos, e sim ajuda pessoas na busca de serem livres e felizes. Daí a importância da escolha de uma fundamentação teórica e metodológica para a sua prática de educador e de estudioso do conhecimento histórico. A opção teórica do profissional da educação deve levar em conta a realidade social e psicológica de seus alunos, pois é muito difícil educar pessoas sem a compreensão de como elas pensam e em que pensam, quais são as suas atuais tendências mentais e comportamentais. Novas demandas que implicam novos desafios, que por sua vez implicam na busca de novos conhecimentos e estratégicas didático-pedagógicas.
            O professor de História (e das outras áreas do conhecimento) não pode perder de vista o domínio de novas tecnologias, a exemplo da informática. Como é sabido, o computador vem se tornando ferramenta indispensável tanto para o ensino como para a pesquisa. Sem sair de casa ou da escola, o professor pode adquirir informações transmitidas de universidades, bibliotecas, museus e arquivos nacionais e internacionais. Ter acesso a sítios com hipertextos, bibliografias, documentos. [Sobre o assunto ver: FIGEUIREDEO, Luciano R. História e Informática: O Uso do Computador. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. P. 419 – 439]. Criar blogs, participar de redes sociais com seus afins, além do uso trivial para a produção de textos, avaliações, fichas, cartazes, planejamento, etc.
            Como foi exposto, a gama e o volume de conhecimentos que o professor de História deve dominar é enorme. O tempo que o profissional da educação dispõe é diminuto devido à sobrecarga de trabalho à qual é submetido, como meio de compensar os péssimos salários da profissão do magistério. E cada um faz o que quer ou pode com o seu tempo. Muitas vezes é uma questão de escolha. Quem procura tempo encontra tempo. Os que buscam o conhecimento conhecem; quem busca o novo se renova.
            A autoridade do professor é baseada na sua competência: “autoridade exercida com indiscutível sabedoria, “[...] a incompetência desqualifica a autoridade do professor” [FREIRE; 1996: p. 102-103], que não pode ser baseada no autoritarismo ou na improvisação precária.
            A competência do professor, enquanto construção permanente baseia-se na sua formação técnica ou acadêmica, na empiria de ano após ano de trabalho educativo, na pesquisa individual ou em eventos coletivos de aperfeiçoamento, no compromisso ético de educar desaguando no prazer da descoberta, no sentimento confortável do dever cumprido dentro de suas limitações, quando não as superando. No orgulho de enfrentar e vencer desafios e na humildade de saber que nada sabe, afinal tudo está para ser conhecido e compreendido. Dezenas de anos de trabalho a fio não são mais que um dia.

 (*) Fonte: Jornal Cinform. Aracaju, 06 a 12 jun. 2005. P. 04. Revisado em set. de 2011.
 (**) Licenciado em História pela UFS e professor da SEED e da SEMED/PMA.

sábado, 5 de novembro de 2011

Livros de cordel e cordelistas sergipanos

A produção literária em livretos de cordel é rica em Sergipe. Em várias feiras do interior e no Mercado Central A de Aracaju existem poetas populares vendendo suas obras.
Originalmente esses livretos mediam 16x11 cm, tinha dimensões de livros de bolso. A grande maioria das capas trazia um desenho, o título e o nome do autor impressos em xilogravura. Todas as páginas são numeradas e variam de 8, 16 e 32. As composições são também variadas: sextilhas, sétimas, oitavas e décimas. O que realmente importa é a rima, mesmo o poeta usando falsos ditongos como sílaba única. A composição rítmica de uma história é a mesma do começo ao fim.
As temáticas da literatura de cordel são extremamente amplas e variadas: o cangaço, a política, o amor, o crime, fatos sobrenaturais, fantasias, valentia.
Na atualidade, os livretos são produzidos em gráficas, ocorrendo transformações nos seus projetos gráficos (formato, tipo de papel, cores, confecção da capa). Além disso, existe uma maior diversificação das temáticas: educação, formação política, biografias de personalidades, avanços científicos e tecnológicos, esportes, acontecimentos contemporâneos, entre outros.
Alguns dos mais conhecidos cordelistas de Sergipe são: Pedro Alves da Silva, Manoel de Almeida Filho, José Marins dos Santos, Severino Milanez, José Pacheco, Manoel Serafim, João José Silva, João Ferreira da Silva, Zezé de Boquim, Gilmar Santana, Severino José, Ronaldo Dórea Dantas, João Firmino Cabral, Zé Antônio dos Santos, entre outros.