sábado, 24 de setembro de 2016

livro SERGIPE NOSSO ESTADO - 2ª edição



Edições Sergipecultura é uma equipe de professores que produz livros didáticos e paradidáticos específicos sobre Sergipe nas áreas de História, Geografia/Meio Ambiente e Cultura desde 2002.
Em outubro de 2011, lançamos mais um título: Sergipe Nosso Estado, para o ensino fundamental, o sucessor de Sergipe Nossa História e Sergipe Nossa Geografia publicados entre 2005 e 2011.
Em 2015, apresentamos a 2ª edição ATUALIZADA, REVISADA e AMPLIADA, assim confirmamos o compromisso manter o livro SERGIPE NOSSO ESTADO sempre atual.
Os textos desses livros foram revisados, atualizados e ampliados, além de terem sido acrescentados conteúdos sobre os aspectos mais significativos da cultura sergipana e o texto ter sido escrito no acordo da nova ortografia.
Sergipe Nosso Estado (SNE) contém 40 capítulos: 18 sobre a História de Sergipe distribuídos em 4 Unidades; 13 sobre a Geografia de Sergipe em 4 Unidades e 9 sobre a cultura sergipana na última unidade. O livro tem dimensões 27,5cm x 20,5cm, 220 páginas com brochura espiralada e miolo colorido. Nosso livro é fundamentado em uma bibliografia sólida que há anos vem sendo ampliada e estudada exaustivamente.
            Os autores são sergipanos, profissionais das disciplinas citadas, com uma média de 28 anos de experiência na área da educação nas redes públicas e particular.
            Os objetivos de SNE são: cumprir a Constituição do Estado de Sergipe (Art. 215, VIII Princípio da Educação), transmitir informações específicas sobre o local, contribuir para o fortalecimento do sentimento da sergipanidade/pertencimento e contemplar as Leis 10.639/03 e 11.645/08 que tornam obrigatório o estudo da História e da Cultura Afro-Brasileira e Indígena, respectivamente.
A distribuição de SNE para as livrarias e papelarias acontecerá a partir do final de novembro. Garantimos que não faltará exemplares nos estabelecimentos comerciais citados, em virtude do livro ser impresso em Aracaju por uma editora com serviços gráficos de alto padrão de qualidade, agilidade e profissionalismo. Além de termos contato direto e aproximação com as livrarias/papelarias de Aracaju e dos centros regionais do interior.
Na Internet, disponibilizamos o blog sergipecultura.blogspot.com contendo informações sobre nossas publicações, além de matérias e artigos sobre Educação, Cultura, História e Meio Ambiente para subsidiar professores e estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Também estamos no Twitter (@sergipecultura) com breves informes sobre aspectos históricos, geográficos, ambientais e do nosso estado.

https://www.facebook.com/sergipecultura

Os autores,

Antônio Wanderley/Luiz Fernando/Marcos Vinícius

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

terça-feira, 27 de maio de 2014

Literatura de Cordel na escola: sugestões metodológicas


Antônio Wanderley de Melo Corrêa*



A escola é local por excelência onde a dinâmica da sociedade se expressa, bem como suas permanências e tradições. A comunidade está ali representada largamente, com estratos sociais diferentes, faixas etárias e pessoas de níveis educacionais diversos e até com interesses contraditórios. É um dos espaços das expressões genuínas da cultura popular, interagindo com outras culturas, sendo um verdadeiro “laboratório” social e cultural dinâmico. 
A Literatura de Cordel, introduzida nas atividades pedagógicas da escola, através de projetos específicos ou interdisciplinares, gincanas, feiras culturais e oficinas de produção literária, proporciona aos estudantes a oportunidade rica de um amplo diálogo com a cultura popular, além do reconhecimento e afirmação desta cultura tradicional regional em contraponto à cultura de massa ou de consumo.
Também estimula a prática da leitura, da escrita neste mergulho na criatividade literária. É um exercício de auto-afirmação e da valorização do próprio gênero Cordel, preservado e expandido largamente e sem conta pelo Brasil a fora (ou seria adentro?). Nessa linha de raciocínio, percebe-se que o Cordel na escola não é somente linguagem e fonte de informação. Assim, se torna imprescindível o diálogo com a cultura que emana deste gênero literário.
Quando o Cordel chega à escola, muitos estudantes vêm como uma novidade exótica ou como uma realidade distante da própria cultura escolar e comunitária. Entretanto, ao terem contato com os conteúdos dos folhetos da poesia popular, sempre acontece uma grande identificação, seja pela sua abrangência, seja pela enorme variedade temática, contemplando todos os gostos, ou ainda pelo estilo bem humorado, irônico e lúdico do gênero literário. Não obstante, o pedantismo e a descriminação de alguns “intelectuais” o denominando de “paraliteratura” ou “literatura menor”. Coisa do Brasil, o império das contradições. As expressões geniais e autênticas da nossa cultura são tratadas com desdém por setores do mundo acadêmico, enquanto universidades européias, de tradição milenar, reverenciam o Cordel brasileiro, através de disciplinas específicas para estudar o gênero literário; produzem teses científicas e honram poetas populares com títulos Honoris Causa.
Assim, apresentar o Cordel à escola é uma ação coerente com a história e a cultura regional, além de ser poderoso aliado nas práticas de ensino/aprendizagem. É o que pretendemos mostra neste escrito, baseado em duas excelentes obras sobre o tema: I - MARINHO, Ana Cristina e PINHEIRO, Hélder. O Cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012; II - HAURÉLIO, Marco. Literatura de Cordel: do sertão à sala de aula. São Paulo: Paulus, 2013.
Antes de tratarmos do tema, considero pertinente ressaltar o que a leitura proporciona: enriquece o vocabulário, aumenta a agilidade do pensamento, melhora a verbalização e a dicção, favorece a fluência e a correção da escrita, amplia e diversifica o conhecimento e expande as idéias e os valores, canalizando para a ampla e verdadeira liberdade de pensamento.
            Também são fundamentais alguns cuidados, no que se refere ao trabalho educativo com qualquer gênero de leitura: sondar dos leitores o que gostam, quais seus interesses, suas experiências culturais; partir de algo que possa tocá-los; entender que o gosto pode ser educado; o prazer de ler não anula o esforço da própria leitura e o trabalho de compreensão.
Destaquei seis ações metodológicas, como sugestões para trabalhos educativos com Literatura de Cordel.
 1. A leitura oral – Ler em voz alta, com ritmo e entonação, é uma atividade fundamental. Pode ser realizada mais de uma leitura. Trata-se de dar expressividade à leitura. Poemas humorísticos ou dramáticos requerem tons e expressividades adequadas. Assim, a leitura deverá ser sempre treinada antes da apresentação ao público. É importante que a leitura seja feita com os folhetos, para que todos conheçam esse tipo de produção cultural. De acordo com a temática de cada poema, muitas atividades podem ser feitas com ou a partir dos folhetos. Para aqueles estudantes que não têm o ímpeto para a leitura oral, é recomendável a leitura individual e silenciosa, seguida do preenchimento de uma ficha de leitura;
2. A variedade de temas – A Literatura de Cordel possui uma variedade enorme de temas, que vai desde fatos históricos, sociais e cotidianos até romances e fantasia. No Cordel, todos os assuntos e informações viram versos. As idéias conflitantes e as ideologias diversas contidas na poesia popular são estímulos ao debate, que deve sempre ser privilegiado na sala de aula. Assim, os estudantes mergulham na cultura de seu povo e são estimulados a serem agentes transformadores dessa cultura. A discussão pode ser comparativa, sobre folhetos que tratem do mesmo tema, de um tema da atualidade global ou regional, sobre os valores, acertos e possíveis equívocos defendidos pelo autor;
3. Dramatizações – Desenvolver a capacidade dos estudantes em reinventar as histórias dos folhetos de Cordel na forma de dramatizações individuais ou grupais, sem a obrigação de cenários e trajes elaborados, com sentido prático e explorando a improvisação. A Literatura de Cordel já inspirou inúmeras peças do teatro brasileiro;
4. Cordéis cantados – Pode ter vivências agradáveis em sala de aula. Toda a turma ou pequenos grupos podem cantar poemas de Cordel no estilo das cantorias de violeiros (consulte vídeos na internet sobre esse gênero musical) ou os próprios alunos criando músicas para as estrofes. Grandes nomes da música popular brasileira cantaram poemas de Cordel;
5. Criações de histórias na sala de aula – Na criação de histórias, as fontes de inspirações podem ser as experiências pessoais, familiares ou comunitárias. Cada um pode colocar no papel, transpor para um folheto, suas experiências em versos rimados: uma paixão, um sonho, um problema social, uma luta comunitária, um fato histórico, um acontecimento pitoresco, uma festa, uma partida de futebol, uma lenda da comunidade, entre tantos outros motivos. Tudo pode virar versos;
6. Uma feira literária – Envolvendo diversas atividades, como venda de folhetos, cantorias de violeiros, exposições de folhetos, murais, palestras, oficina de produção de poemas e de confecção de folhetos; encenações de histórias, apresentações de musicas influenciadas, filmes inspirados, além de ilustrar as narrativas em cartazes.
            Concluo citanda a autora de um dos trabalhos que serviram de referência para este escrito: O mais importante de tudo isto é que a literatura de cordel seja percebida como uma produção cultural de grande valor e precisa ser conhecida, preservada e cada vez mais integrada à experiência de vida de nossas novas gerações (Ana Cristina Marinho).


(*) Licenciado em História pela UFS, professor das redes públicas estadual (SEED) e municipal de Aracaju (SEMED/PMA), escritor de livros didáticos sobre Sergipe e cordelista.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Como Produzir Projetos Educativos


O Que é um Projeto?




Ò  É um documento que contém o planejamento de um processo ou de uma atividade pedagógica.
Ò  Diz o que vai ser feito, porque, para quem, quando, para quê, com quais recursos e como será avaliado. 

Todo projeto (educativo) é coletivo?

Ò  Sim, porque a escola é um todo dinâmico dividido em várias partes;
Ò  Sim, porque a interatividade é intensa e permanente;
Ò  Sim, porque todos têm o direito e o dever da participação.

Passos de um Projeto Educativo

Justificativa
Ò  É o PORQUE fazer, a partir de uma avaliação coletiva (dos educadores) da realidade da comunidade escolar;
Ò  É a explicação de uma situação que deve ser transformada.

Objetivos
Ò  É o PARA QUÊ. O aonde se quer chegar, a nova realidade que virá a existir a partir das ações a serem desenvolvidas.

Metas
Ò  São os objetivos QUANTIFICADOS. Exemplo: Alfabetizar 50 crianças (quantos) em seis meses (quando);
Ò  Para cada objetivo é importante existir a sua meta.

Público ou Participantes
Ò  Aqueles a QUEM o projeto vai beneficiar, levando em conta a faixa etária, escolaridade e o grupo social no qual eles estão inseridos.

Cronograma
Ò  É o QUANDO pormenorizado em um calendário em formato de tabela, na qual conste as atividades específicas  (na vertical) e os meses e suas respectivas semanas (na horizontal);
Ò  O cronograma é fundamental para o monitoramento do projeto.


Recursos
Ò  É o COM QUEM e COM QUE. Assim, eles são de três naturezas:
  • Humanos – quem serão os responsáveis;
  • Materiais – os equipamentos e materiais de custeio necessários;
  • Financeiros – o montante de dinheiro a ser aplicado nas atividade (com tabela demonstrativa).

Metodologia
Ò  É o COMO vai ser desenvolvido o trabalho;
Ò  É o relato do trabalho, do início ao fim, definindo as etapas, as tarefas e os responsáveis pelas mesmas;

Avaliação
Ò  COMO VAI ou FOI o trabalho; Momentos de avaliação devem acontecer:
  • Antes (para justificar);
  •  Durante (monitorando: o que vai bem e o que vai mal);
  •  No final do processo (resultados alcançados).

Bibliografia
Ò  A relação das referências práticas e teóricas, bem como de indicativos oficiais que foram consultados para a elaboração do projeto.

Responsáveis
Ò  A lista dos nomes de todos os ENVOLVIDOS na execução do projeto:

  • Corpo diretivo;
  • Educadores (professores e pedagogos);
  • Funcionários, estagiários e voluntários.      

sexta-feira, 18 de abril de 2014

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Leandro Gomes de Barros: o "Pai do Cordel"


Antônio Wanderley de Melo Corrêa*
 
            Ao longo da história, a humanidade criou “pais” para as ciências, artes e invenções tecnológicas. Assim, temos o pai da História (Heródoto), da Medicina (Hipócrates), da aviação (Santos Dumont), do Rock brasileiro (Raul Seixas), entre tantos outros. Em vários casos, esse título é disputado por mais de uma personalidade.
            O cordel, gênero literário tão enraizado na cultura nordestina, também tem o seu “pai”. Trata-se do paraibano de Pombal, Leandro Gomes de Barros, nascido em 19 de novembro de 1865 no sítio Melancia.
No seu caso, o título é praticamente inconteste, sendo ovacionado por outro grande poeta popular, seu contemporâneo, João Martins Athayde como “o primeiro sem segundo”, expressão consagrada até hoje entre os cordelistas, leitores e pesquisadores daquele gênero literário. É considerado como o mais completo escritor brasileiro da Literatura de Cordel, o maior poeta popular de todos os tempos, tendo escrito aproximadamente 600 obras. É autor de vários clássicos e campeão absoluto de vendas. Muitos dos seus títulos têm reedições ininterruptas até o presente e ultrapassam a casa dos milhões de exemplares vendidos. Nenhum poeta brasileiro vendeu e teve a sua obra propagada tanto quanto ele.
Na adolescência, Leandro viveu na Vila de Teixeira/PB, onde conviveu com poetas violeiros sertanejos, a exemplo de Ignácio da Catingueira, Romano da Mãe d’Água, Silvino Pirauá, Bernardo Nogueira, Hugolino do Sabugi e Nicandro Nunes da Costa. Pirauá, de Patos/PB, foi o primeiro a escrever romances em versos.
Leandro provavelmente começou a escrever poemas em 1889, aos 24 anos. Mas somente em 1893 publicou seus primeiros folhetos. Nesse período, os folhetos eram impressos em tipografias de jornais no Recife/PE. Assim, o maior destaque foi formado pelo quarteto Leandro, Pirauá, Francisco Chagas Batista e João Martins de Athayde. Algum tempo depois, o segundo abandonou o Cordel para dedicar-se inteiramente ao ofício de violeiro.
Na última década do século 19, período fundamental do Cordel, foram estabelecidas as regras de composição do gênero literário e formado o seu público fidelíssimo, o povo camponês iletrado do sertão nordestino. O público do Cordel somente começaria a diversificar-se nos anos 1960.
Depois de tornar-se proprietário de uma pequena gráfica em 1906 ou 1907, a Typografia Perseverança, os folhetos do “Pai do Cordel” se espalharam pelo Nordeste. Tornou-se assim, o primeiro poeta editor do Brasil. Ao tempo no qual Recife começou a se tornar o centro de propagação de folhetos da poesia popular. Leandro não somente imprimiu os livretos de sua autoria, como também de outros poetas. Escrevia versos diariamente, contratou distribuidores para vender malas de folhetos aos “agentes”, que revendiam ao povo sertanejo e citadino em feiras, mercados, portas de igreja e estações ferroviárias.
O analfabetismo generalizado não era problema para que milhões de nordestinos memorizassem os versos leandrinos e dos outros poetas do povo. Algum “letrado” lia os poemas nos terreiros e alpendres das casas rústicas sertanejas para os ouvidos atentos de mentes com memórias prodigiosas. Para os habitantes daquelas vastidões, vivendo no isolamento da caatinga, o Cordel, além do lazer e do despertar da fantasia, era o jornal, o meio de contato com o mundo “moderno” distante. Para muitos, foi ainda a cartilha de alfabetização.     
            Leandro não se limitou a escrever os temas em voga na sua época: gesta do gado, cangaço, e lendas e romances relacionados à Europa medieval. Sua obra foi magistralmente original e genuinamente brasileira, nordestina. Envolveu todos os gêneros e modalidades de sua época: peleja, romance, gracejo, sátira e crítica social. Escreveu poemas sobre assuntos cotidianos, verdadeiras reportagens em versos; temas religiosos e políticos; sem esquecer os tradicionais como o romanceiro, contos de fadas e de príncipes encantados e lendas européias. Quase tudo ambientado na cultura sertaneja. Entre os temas prediletos, perpassava a sua vasta obra, a mulher, a sogra e a cachaça. Escreveu no formato de estrofes sextilhas, setilhas e décimas com versos de sete sílabas poética ou redondilha maior.
            Assim, o “Mestre Leandro”, título atribuído a ele por muitos cordelistas das diversas gerações, tornou-se o grande sistematizador da Literatura de Cordel do Brasil. Determinou caminhos temáticos, estruturas das estrofes e estilos satíricos e críticos, que são seguidos até a atualidade. O jovem cordelista e pesquisador deste gênero literário, Marco Haurélio, afirma que Leandro “explorou e deu forma a todos os gêneros e temas, preparando, assim, a estrada na qual os vates populares transitam ainda hoje” [HAURÉLIO, Marco. Breve História da Literatura de Cordel. São Paulo: Editora Claridade, 2010. P. 20].
Entre os seus folhetos mais conhecidos, destacam-se: O Cavalo que Defecava Dinheiro, História de Juvenal e o Dragão, História do Boi Misterioso, O Cachorro dos Mortos, Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, Branca de Neve e o Soldado Guerreiro, A Confissão de Antônio Silvino, A Vida de Pedro Cem, A Peleja de Leandro Gomes Contra uma Velha de Sergipe, A Força do Amor, Os Sofrimentos de Alzira, Como Antônio Silvino Fez o Diabo Chocar, História de São João da Cruz, Como se Amansa Uma Sogra, Vida e Testamento de Cancão de Fogo, O Casamento e o Divorcio da Lagartixa, O Casamento do Sapo, As Proezas de um Namorado Mofino, A Mulher Roubada, Suspiros de um Sertanejo, O Soldado Jogador, A Donzela Teodora, entre muitos outros.
Como leitor sergipano aficionado pelo Cordel, chamou-me muito a atenção o folheto “A Peleja de Leandro Gomes com uma Velha de Sergipe”. O qual li com volúpia.  Nos versos satíricos do poema, ele fala de uma sua andança pelo nosso estado, provavelmente distribuindo folhetos de sua tipografia. Assim, teria sido desafiado por uma velha na pensão de “um tal Felipe”. De forma magistral, Leandro versou com muito humor a peleja com a velha mal humorada. A disputa girou em torno de problemas de relacionamento e de responsabilidade entre o homem e a mulher. Surpreendido com a grande capacidade de embate verbal da velha, o vate paraibano confessou com extrema ironia: A velha me fez subir/ Onde nem urubu vai,/ Andei numa dependurada,/ Já estava cai ou não cai;/ Ainda chamei tio a gato,/ Tratei cachorro por pai. A peleja foi tão feroz e renhida que, ao final, o “Pai do Cordel” desabafou: Quando foi no outro dia,/ Arrumei-me, fui embora,/ Com medo que a tal serpente/ Tornasse a vir cá fora./ Jurei de não voltar mais/ Onde o tal Diabo mora. E assim teria se despedido para sempre da terra sergipana.
Nos folhetos de sua autoria, publicados pela Editora Luzeiro, um dos parágrafos do “Resumo Biográfico do Autor”, o descreve como “De espírito crítico, satírico e contestador. Em seus versos avaliou os desmandos de seu tempo, principalmente políticos, religiosos e referentes à interferência estrangeira no Nordeste”.
No livro “Vaqueiros e Cantadores”, Câmara Cascudo o descreveu como: “Baixo, grosso, de olhos claros, o bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais um fazendeiro que um poeta, pleno de alegria, de graça e de oportunidade”.  
Suas obras-primas inspiraram outros grandes autores, a exemplo de Ariano Suassuna, que utilizou a história do cavalo que defecava dinheiro no seu "Auto da Compadecida". Foi considerado pelo folclorista Luiz da Câmara Cascudo o mais lido dos escritores populares. Para Carlos Drumond de Andrade, Leandro foi "o rei da poesia do sertão e do Brasil".
Leandro foi preso em 1918 porque o chefe de polícia considerou afronta às autoridades alguns dos versos da obra "O Punhal e a Palmatória", trama que tratava de um senhor de engenho assassinado por um homem em quem teria dado uma surra. A estrofe mais famosa do poema é contundente: Nós temos cinco governos/ O primeiro o federal/ O segundo o do Estado/Terceiro o municipal/ O quarto a palmatória/ E o quinto o velho punhal.
O “pai” dos poetas cordelistas faleceu em Recife em 4 de março de 1918, durante uma epidemia de gripe espanhola ou influenza. João Martins de Athayde, também poeta popular e futuro editor de seus títulos, no folheto “A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros”, sintetizou a grandeza de sua obra: Poeta como Leandro/ Inda no Brasil não criou/ Por ser um dos escritores/ Que mais livros registrou/ Canções não se sabe quantas/ Foram seiscentas e tantas/ As obras que publicou.

(*) Licenciado em História pela UFS, professor das redes públicas estadual (SEED) e municipal de Aracaju (SEMED/PMA), escritor de livros didáticos regionais e cordelista.


[ Artigo publicado no “Jornal do Dia” em 08 abr. 2014. Pg. 04 ]

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Breve histórico da literatura de cordel



Antônio Wanderley

            O Cordel é um gênero literário poético de origem popular, representando histórias contadas em versos agrupados em estrofes, com rima e métrica (sete sílabas poéticas), impressas em folhetos produzidos artesanalmente em papel barato ou pela indústria gráfica, para serem lidos, contados ou cantados.
            A produção desses folhetos, em versos, retoma da Europa do século 16, durante o movimento humanista ou renascentista, a partir da invenção da imprensa (tipografias). Naquele tempo, o objetivo era resgatar e popularizar os relatos orais ou manuscritos do cantar dos trovadores ou menestréis medievais.
As estrofes mais usadas eram as de seis versos, as sextilhas, recitadas ou cantadas em forma cadenciada e melodiosa, acompanhadas por violas. As temáticas, quase sempre, eram históricas, romances, encantamento, narrativas e lendas.
            Em Portugal, nos séculos 18 e 19, havia o costume de os folhetos serem expostos à venda, nas praças, feiras e mercados, pendurados em ‘cordéis’, termo de época equivalente a cordão ou barbante da atualidade. As estampas das capas eram impressas a partir de clichês metálicos contendo o título e a autoria da obra e, às vezes, o nome do editor (proprietário da tipografia).
A partir de meados do século 19, essa tradição aportou no Brasil. Os primeiros folhetos com versos rimados (provavelmente manuscritos), com métrica de sete sílabas poéticas ou redondilha maior, foram popularizados na Paraíba. Os primeiros poetas de destaque foram Silvino Pirauá e Leandro Gomes de Barros, este último consagrado como o “Pai do Cordel” e considerado “o primeiro sem segundo”. Esses e outros poetas sertanejos migraram para Recife/PE com o objetivo de facilitar a impressão e a divulgação de suas obras.  
Do Nordeste, o Cordel espalhou-se pelo Brasil, sendo levado para as outras regiões pelos migrantes.
Atualmente, os temas dos folhetos são amplos: aspectos cotidianos, episódios históricos, temáticas nordestinas (cangaço, seca, coronelismo, gesta do gado, Padre Cícero,...), biografias, lendas, religiosidade, atualidades científicas e tecnológicas, fenômenos midiáticos, vitórias esportivas ou eleitorais, aliados às temáticas tradicionais e fantasiosas, que evocam romance, fantasia, encantamento, animismo, motes, glosas, pelejas, personalidades regionais, entre outras.
            Os folhetos de Cordel são vendidos pelos folheteiros ou pelos próprios poetas cordelistas, nas feiras livres e mercados. Também são vendidos em livrarias, feiras de livros e instituições culturais.
            Atualmente a produção dos livretos conta com as possibilidades tecnológicas da indústria gráfica, incluindo capas coloridas e formatos variados, não obstante, muitos cordelistas preferirem produzir seus folhetos recorrendo à produção “artesanal”: fotocópias de matrizes em papel A4 (para o miolo) e em papel ou cartolina colorida para as capas, enquanto a diagramação é feita em programas de edição de texto da informática.   
            Em Sergipe, a Literatura de Cordel ganhou impulso com a chegada de um dos seus maiores nomes a Aracaju, Manoel D’Almeida Filho, nos anos 1940. Durante quase 50 anos ele teve uma banca de venda de folhetos no Mercado Antônio Franco. Nos anos 1950, João Firmino Cabral, aos 17 anos, tornou-se folheteiro do mestre Manoel e também seu discípulo. Com a morte deste (1995), aquele se tornou a maior referência do cordelismo sergipano, ambos fizeram escola, inspirando, incentivando e arregimentando novas gerações de poetas populares. 
            Na atualidade, as inovações temáticas, de diagramação, impressão e de comercialização, publicações de obras na internet e o esforço de levar os folhetos à escola são estratégias de sobrevivência e de propagação da Literatura de Cordel.
[ Artigo publicado no Jornal do Dia em 19 fev. 2014 ]