sábado, 12 de novembro de 2011

Os saberes do professor de História*

Antônio Wanderley de Melo Corrêa**

                         É excitante e ingrata a condição de professor de História, e ambas as sensações ocorrem pela infinidade de conhecimentos e conteúdos que se tem que dominar e transmitir, não somente históricos de muitos grupos humanos e povos em todos os tempos, mas também de outras ciências afins ou “auxiliares” da História. Acrescentando-se a isso, o conhecimento de teorias e práticas antigas e atuais no campo da Didática e da Pedagogia. Tamanho desafio acabrunha e/ou estimula o professor de História.
            Lembra Paulo Freire: “Nada que experimentei em minha atividade docente deve necessariamente repetir-se” [FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 55], aludindo à necessidade constante de auto-aperfeiçoamento, reflexão e evolução das práticas educativas do professor, levando em conta a permanente transformação da realidade e as consequentes novas demandas e desafios da educação.
             O estudo é, ou deveria ser, atividade inerente ao educador, afinal não há ensino sem pesquisa. “O que há de pesquisador no professor não é uma qualidade [...]. Fazem parte da natureza da prática educativa docente a indagação, a busca, a pesquisa”. [FREIRE: 1998: p. 32].
            Existem muitos casos de professores de História que se encontram desatualizados, ou seja, mal informados ou repetitivos. Consequência do avanço constante da ciência histórica e da falta de estudo permanente. Mas estudar o quê? Já que “tudo é História”? Devem existir critérios de seleção no que se refere ao pesquisar, o que é fundamental e mais interessante para o professor e seus alunos.
            O conhecimento é como o universo, infinito e em constante expansão, mesmo em se tratando de uma área específica e compreendendo o conhecimento histórico como o mínimo de que realmente aconteceu.
            Além dos conhecimentos fundamentais sobre os grupos e povos do passado, de suas criações e transformações políticas, sociais, econômicas, culturais (artísticas, gráficas, de costumes, religiosas e tecnológicas). É imprescindível o professor de História adquirir conhecimentos geográficos e dominar, com desenvoltura, a leitura cartográfica enquanto fatores indispensáveis para a compreensão geopolítica do processo histórico e para situar seus alunos no “palco da História”, localizando e identificando as peculiaridades físico-ambientais das áreas ocupadas pelos povos ao longo do tempo.
            O conhecimento adquirido pelo profissional de ensino da História durante a sua vida acadêmica não é o bastante. Este é ponto de partida, logo, é imperioso o esforço de o mesmo se manter informado sobre novas descobertas de fontes históricas e de publicações recentes de sínteses  históricas (pesquisas produzidas por historiadores), acompanhar, na medida do possível, o desenvolvimento das ciências afins, a saber: Arqueologia, Antropologia, Geografia, Sociologia, entre outras.
            A busca de novos e antigos paradigmas didático-pedagógicos também se faz imensamente necessária à prática educativa. A teoria ilumina o caminho profissional e ajuda a organizar a prática educativa. O professor não ensina por ensinar, mas sim, educa para algum objetivo político-ideológico, tendo consciência disso ou não. O professor não forma autômatos, e sim ajuda pessoas na busca de serem livres e felizes. Daí a importância da escolha de uma fundamentação teórica e metodológica para a sua prática de educador e de estudioso do conhecimento histórico. A opção teórica do profissional da educação deve levar em conta a realidade social e psicológica de seus alunos, pois é muito difícil educar pessoas sem a compreensão de como elas pensam e em que pensam, quais são as suas atuais tendências mentais e comportamentais. Novas demandas que implicam novos desafios, que por sua vez implicam na busca de novos conhecimentos e estratégicas didático-pedagógicas.
            O professor de História (e das outras áreas do conhecimento) não pode perder de vista o domínio de novas tecnologias, a exemplo da informática. Como é sabido, o computador vem se tornando ferramenta indispensável tanto para o ensino como para a pesquisa. Sem sair de casa ou da escola, o professor pode adquirir informações transmitidas de universidades, bibliotecas, museus e arquivos nacionais e internacionais. Ter acesso a sítios com hipertextos, bibliografias, documentos. [Sobre o assunto ver: FIGEUIREDEO, Luciano R. História e Informática: O Uso do Computador. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. P. 419 – 439]. Criar blogs, participar de redes sociais com seus afins, além do uso trivial para a produção de textos, avaliações, fichas, cartazes, planejamento, etc.
            Como foi exposto, a gama e o volume de conhecimentos que o professor de História deve dominar é enorme. O tempo que o profissional da educação dispõe é diminuto devido à sobrecarga de trabalho à qual é submetido, como meio de compensar os péssimos salários da profissão do magistério. E cada um faz o que quer ou pode com o seu tempo. Muitas vezes é uma questão de escolha. Quem procura tempo encontra tempo. Os que buscam o conhecimento conhecem; quem busca o novo se renova.
            A autoridade do professor é baseada na sua competência: “autoridade exercida com indiscutível sabedoria, “[...] a incompetência desqualifica a autoridade do professor” [FREIRE; 1996: p. 102-103], que não pode ser baseada no autoritarismo ou na improvisação precária.
            A competência do professor, enquanto construção permanente baseia-se na sua formação técnica ou acadêmica, na empiria de ano após ano de trabalho educativo, na pesquisa individual ou em eventos coletivos de aperfeiçoamento, no compromisso ético de educar desaguando no prazer da descoberta, no sentimento confortável do dever cumprido dentro de suas limitações, quando não as superando. No orgulho de enfrentar e vencer desafios e na humildade de saber que nada sabe, afinal tudo está para ser conhecido e compreendido. Dezenas de anos de trabalho a fio não são mais que um dia.

 (*) Fonte: Jornal Cinform. Aracaju, 06 a 12 jun. 2005. P. 04. Revisado em set. de 2011.
 (**) Licenciado em História pela UFS e professor da SEED e da SEMED/PMA.

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