sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Natal sem Jesus Cristo




Antônio Wanderley de Melo Corrêa*

O Natal é a festa mais tradicional dos cristãos. Comemora o nascimento de Jesus Cristo, embora os Evangelhos não citem explicitamente nenhuma data relativa ao fato. Assim, o dia 25 de dezembro é amplamente questionado por historiadores e exegetas independentes, através de indagações lógicas.
No hemisfério norte, dezembro é o mês mais próximo do inverno, logo, como pastores poderiam está pastoreando seus rebanhos naquela época do ano, ao relento, m noite fria? (Lucas 2:8)
A única referência indireta sobre o período do nascimento do Nazareno se encontra no Evangelho de Lucas (1:26): “Maria engravidou no sexto mês”. Pressupondo que o calendário de 12 meses solares já estava em vigor no Império Romano, do qual a Palestina era província anexada, em que o sexto mês é junho, somado com mais nove, que é o período da gestação humana, conclui-se que o natalício do Homem de Nazaré ocorreu em março ou abril.
Os evangelistas denominaram Jesus, simbolicamente, como “Cordeiro de Deus” (João 1:36), reforçando a tese de seu Natal no período calculado acima, em função daqueles meses terem sido, tradicionalmente, o período de maior ocorrência do nascimento de cordeiros naquela região e naquele tempo.
            Mas, como teve início a tradição da comemoração do Natal de Jesus no dia 25 de dezembro? No calendário pagão romano, naquela data, cultuava-se Mitra, o “sol invencível”, uma deidade persa assimilada pelos gregos e popularizada em Roma. A lenda divulga que aquela entidade teria nascido de uma mulher virgem. Além disso, sua festa ocorria com fartura de pão e vinho. Elementos que se relacionam com a história de Jesus: sol “eu sou a Luz do Mundo”, nascido de uma virgem e a celebração da ceia com pão e vinho.
            No I Concílio de Nicéia, ocorrido no ano 325, a cúpula da Igreja Cristã estabeleceu como data do nascimento de Jesus Cristo o 25 de dezembro, para coincidir com a festa pagã do nascimento do “sol invencível” Mitra. Uma estratégia para favorecer a aceitação do cristianismo entre os romanos pagãos.
A tradição foi mantida por parte da maioria das religiões cristãs, permanecendo, a data consagrada do natalício do Galileu o 25 de dezembro.
No período contemporâneo, com a sedimentação do capitalismo industrial a partir de meados do século XIX, as datas comemorativas tornaram-se excelentes oportunidades de estimular o aumento do consumo. Ainda mais quando se trata de uma festa na qual, tradicionalmente, são trocados presentes, numa alusão à passagem bíblica da visita dos reis magos a Jesus Cristo ainda bebê (Mateus 2:9 – 11). No entanto, a lembrança da chegada de Jesus Cristo ao mundo tem sido substituída massivamente, na sociedade de consumo, por Papai Noel.
O mito Papai Noel transformou-se no grande ícone do Natal no mundo ocidental. Hoje está praticamente espalhado pelo planeta, globalizou-se. Uma adaptação da tradição alemã e escandinava de associar São Nicolau de Mira ao Natal. Ele viveu no século IV. Diz a tradição que Nikolaus (como é escrito no alemão)  distribuía presentes para crianças pobres na noite de 24 para 25 de dezembro trajando roupa de inverno parda ou verde.
No país onde a personalidade transformou-se em mito, ele é denominado Weihnachtsmann: “Homem do Natal”; na Itália é Babbo Natale, na França Père Noël, na Inglaterra Father Christmas, em Portugal Pai Natal, nos Estados Unidos Santa Claus, na Espanha e na maioria dos países da América Latina é denominado Papá Noel.
Em 1822, o professor e poeta norte americano Clemente Clark Moore, criou o poema “Uma Visita de São Nicolau”, em que, imaginou Santa Claus viajando em um trenó puxado por renas e entrando nas casas pelas chaminés, para distribuir os presentes para a garotada.
O cartunista, também norte americano, Thomas Nast produziu uma ilustração, na edição especial de Natal da revista Harper’s Weeklys, em 1886, representando Santa Claus com roupas vermelhas e brancas, as cores predominantes da bandeira daquele país. E em 1931, a Coca Cola realizou uma campanha publicitária agressiva, destacando o mito, outra vez com aquelas cores, que também são as do seu rótulo. Imagem que foi difundida pelo mundo e consolidou-se. 
Assim foi sendo construída a atual imagem do “bom velhinho”, que se transformou no mito perfeito para estimular as compras de produtos para as trocas de presentes na véspera do Natal. Na mente da maioria das pessoas, o símbolo do Natal é tão somente o Papai Noel, com seu saco enorme de presentes, ou seja, de produtos fornecidos pelo mercado.
            O comportamento consumista das multidões é acompanhado da frieza, no que se refere à espiritualidade, a uma lembrança, mesmo que tênue, do Nazareno que nasceu em um pobre estábulo, por falta de hospitalidade. E olhe que, segundo os Evangelhos e as doutrinas das religiões cristãs, Ele veio ao mundo com a missão magnânima de libertar a humanidade dos males capitais: o orgulho, o egoísmo, a vaidade e a falta de esperança.
O consumismo e a indiferença são facilmente observados nos dias que antecedem o 25 de dezembro e na maior parte das reuniões familiares para a famosa ceia do Natal - evento social onde não pode faltar peru assado, panetone, queijos finos, frutas cristalizadas, regados a vinho e a decalitros de cerveja e refrigerante. Muita comilança, bebedeira, troca de presentes, som alto, bate papos e frivolidades. Nenhuma oração, nenhuma leitura do Evangelho alusiva à data, nenhuma reflexão sobre a importância do ideal cristão. Se alguém com mais sensibilidade propõe algo assim, é logo rechaçado pelos mais “brincalhões” com palavras infelizes e de mau gosto, do tipo: “Lugar de reza é na igreja!”; “Tá virando beata, fulana ??”; “Eu vim aqui foi pra beber e comer!”.
Que pena que a maioria não perceba o quanto um ambiente social muda (para melhor) durante e após uma prece coletiva. O panetone tem gosto do Pão da Vida, o vinho tem a doçura e o frescor do solvido nas bodas de Caná, as frutas têm a suculência dos figos e tâmaras da Galiléia, os abraços são calorosos como os do cenáculo natural das margens do Tiberíades. A alegria é mais amena, sincera e verdadeira. 
No entanto, é perdida uma oportunidade de aprender e refletir sobre o verdadeiro sentido da vida, a melhor e mais bela forma de se relacionar com os outros, o real destino de cada um de nós para além da vida física.
            Jesus, de fato, trousse o maior, o mais belo e o mais profundo tratado existencial, moral e espiritual da história. Ele ensinou e viveu o que pregou, conquistou seguidores inumeráveis com Suas palavras arrebatadoras e o Seu exemplo incomparável. 
E não é para menos, somente para lembrar e refletir, eis algumas delas: Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados de filhos de Deus (Mateus 5:9); Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados (Mateus 5:6); Vinde a mim todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mateus 11:28); [Citando o profeta Isaías] Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim (Mateus 15:8); Ai do mundo por causa dos escândalos, porque é necessário que venha escândalos, mas ai do homem por quem o escândalo venha (Mateus 18:7); Se vosso irmão pecou contra vós, ide lhe exibir sua falta em particular, entre vós e ele; se ele vos escutar, tereis ganho o vosso irmão (Mateus 18:15); [...] ide antes reconciliar-vos com o vosso irmão, e depois voltai para fazer vossa oferenda (Mateus 5:24); Por que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma trave no vosso olho? (Mateus 7:3); Amará o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o seu espírito [...]. Amareis vosso próximo como a vós mesmos (Mateus 22:37 e 39); Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam (Mateus 5:44); [...] que a vossa mão esquerda não saiba o que dar a vossa mão direita (Mateus, 6:3); Entrai pela porta estreita, porque a porta da perdição é larga, e o caminho que a ela conduz é espaçoso, e há muitos que por ela entram. Como a porta da vida é pequena! Como o caminho que a ela conduz é estreito! E como há poucos que a encontram! (Mateus 7:13-14); Todo aquele que pratica, pois, ouve estas palavras que eu digo e as pratica será comparado a um homem sábio que construiu sua casa sobre a rocha (Mateus 7:24);  Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos, porque há muitos chamados e poucos os escolhidos (Mateus 20:16); Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos permitiu devolver (se separar das) vossas mulheres (Mateus 19:8); [...] não há nada de secreto que não deva ser descoberto, nem nada de oculto que não deva ser conhecido [...] (Lucas 8:17); Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, eu me envergonharei também dele [...] (Lucas 9:26); Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porque todo aquele que pede recebe, quem procura acha, e se abrirá àquele que bater à porta (Mateus 7:7); [...] não junteis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os corroem, onde os ladrões os desenterram e roubam; mas formai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os corroem; porque onde está o vosso tesouro, aí também está o vosso coração. [...] Procurai, pois, primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Por isso, não estejais inquietos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã, cuidará de si mesmo. (Mateus 6:19-34). Dai de graça o que de graça recebeste (Mateus 10, 8); Qualquer que pertença à verdade escuta a minha voz (João 18:37).
Ensinamentos simples e profundos, que se opõem drasticamente à mesquinhez do individualismo, à insensatez e à corrida desenfreada pelas vantagens e conquistas pessoais. Que revelam a necessidade urgente do despertar para uma nova cultura mental, na qual prevaleça a solidariedade, a justiça, a paz, a confiança em Deus e a compreensão ampla do verdadeiro sentido da vida. O Natal é uma ótima oportunidade para este começo.
As legiões invisíveis do Cristo já estão trabalhando para dissiparem as trevas, confundirem os orgulhosos e glorificarem os justos.
Que Aquele que vive e reina para sempre, em Espírito e Verdade, lhe abençoe agora e para sempre. Feliz Natal.    
(*) Professor de História da rede pública estadual (SEED) e da rede pública municipal (SEMED\PMA).

sábado, 17 de dezembro de 2011

O que é Educação Ambiental

Antônio Wanderley de Melo Corrêa
Concepções e conceitos
Para que ocorra a Educação Ambiental - EA é necessário conhecer as concepções de Meio Ambiente das pessoas envolvidas na atividade.
Existe confusão entre os conceitos de Ecologia e Meio Ambiente. Ecologia é a ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o seu ambiente físico e natural. O ecólogo é o estudioso e o ecologista é o militante político. Meio Ambiente é um local determinado onde estão as relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais, gerando transformações na natureza e na sociedade.

Características básicas
A grande causa do problema ambiental é o consumo excessivo de recursos naturais por uma pequena parcela da humanidade e no desperdício e produção de artigos inúteis e nefastos à qualidade de vida.
O que deve ser priorizado são as relações econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza e entre os humanos.
A necessidade da EA enquanto educação política: torna o cidadão reflexivo, ativo e muda seu comportamento cotidiano. Ele/a passa a exigir justiça social, cidadania planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza. Ele/a questiona as opções políticas e culturais atuais. Somente apóia o crescimento econômico que não seja nocivo ao ser humano e ao planeta.
A EA é necessariamente criativa, inovadora e crítica, impregnada da utopia de mudar radicalmente as relações entre a humanidade e a natureza.
A EA contribui para o “pensar no global e o agir no local”: Incentiva o individuo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto específico. É o cidadão do mundo atuando em sua comunidade.
A EA por si só não resolverá os complexos problemas ambientais planetários, mas influi decisivamente para isso. O pensamento global e a ação no local provocam mudanças no sistema (sem resultados imediatos e visíveis). O problema ambiental foi criado pela humanidade e é dela que virá a solução.
Onde e quando
A EA deve estar presente em todos os espaços que educam o/a cidadão/ã: escolas (em todas as disciplinas, com criatividade, enfatizando o ambiente onde o aluno vive e estudando in loco), universidades (formação de profissionais), reservas e parques ecológicos (preservar e pesquisar fauna e flora), sindicatos (condições de trabalho, insalubridade e segurança), associações comunitárias (problemas ambientais cotidianos), meios de comunicação social (conscientização da população). Em cada um desses contextos tem características, especificidades e interesses.
Não há limite de idade para o estudante, porque tem um caráter de educação permanente e dinâmica. Seu conteúdo e metodologia são variados, adequados às faixas etárias dos educandos.

Objetivos
            Segunda a Carta de Belgrado (1975), os objetivos da EA são seis:
1.    Conscientização – Sobre o meio ambiente global e os problemas conexos e de se mostrarem sensíveis aos mesmos;
2.    Conhecimento – Adquirir compreensão essencial do meio ambiente global, os problemas ligados a ele e a responsabilidade de cada um;
3.    Comportamento – Adquirir interesse profundo pelo meio ambiente e a vontade de contribuir para a sua proteção e qualidade;  
4.    Competência – Buscar adquirir meios técnicos com a ajuda de especialistas e conhecedores do problema;
5.    Capacidade de Avaliação – Avaliar medidas relacionadas ao meio ambiente, decifrando a linguagem dos projetos de risco ambiental;
6.    Participação – Necessidade de ação imediata para a solução dos problemas, participar na construção da cidadania.

Conteúdos
            São vários os conteúdos da EA, tais como: saneamento básico, extinção de espécies, poluição em geral, destruição da vegetação, biodiversidade, efeito estufa, reciclagem (de lixo, de resíduos industriais, de óleo), energia e combustíveis (poluentes e não poluentes), comportamento ambientalmente correto, etc.
            Os conteúdos e conceitos científicos da Biologia e da Geografia devem estar relacionados com os problemas ambientais gerais e cotidianos.

Metodologia
            Muitos são os métodos possíveis para a realização da EA: aulas expositivas bem preparadas e bem dadas, deixando espaço para questionamentos; induzir os estudantes a fazerem observações, pesquisas e experiências; induzir o grupo a agir na solução do problema através da criação de clubes ecológicos, produção de jornais, mutirões de limpeza ou de plantio de árvores, mobilizações da comunidade e passeatas; estudos interdisciplinares sobre o mesmo tema, com as contribuições específicas de cada disciplina, proporcionando intercâmbio de experiências entre educadores e educandos; excursões pedagógicas a reservas, bairros, empresas, paisagens urbanas e naturais, levantando os problemas ambientais,  contados através de apresentações artísticas, lúdicas e com o uso de meios de comunicação (filmes, fotos, blogs, jornais impressos, cartazes, murais).
            Um método não anula o outro, pelo contrário, esses e outros se completam.  

Avaliação
            O processo de avaliação depende dos objetivos da prática educativa. A avaliação serve para identificar o conhecimento adquirido.
            Se a EA fundamenta-se na mudança da mentalidade, comportamento e valores, a avaliação deve ajudar a identificar os problemas ambientais e como solucioná-los. Assim, avaliar é estimular a reflexão, o diálogo e a auto-avaliação, a partir do conhecimento científico e as relações sociais e culturais da comunidade onde se vive.
O “pensar global e agir no local” é o mote da avaliação da EA: os problemas da humanidade estão acima dos interesses individuais; atitudes e comportamentos necessitam serem revistos, tendo em vista uma nova noção de responsabilidade com o planeta e com a comunidade.

Fonte: REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. 4ª Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A escola e o gosto pela leitura*



Antônio Wanderley de Melo Corrêa**


A escrita alfabética teve sua origem há aproximadamente 5500 anos. Entretanto, ainda hoje, na maioria dos países do hemisfério sul, incluso o Brasil, muitas centenas de milhões de pessoas não dominam a leitura e a escrita.
            De acordo com o Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada pela ONU em 10 de dezembro de 1948: “Todo homem tem o direito [...] de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentes de fronteiras”.
            A Constituição do Estado de Sergipe afirma que é dever do Estado “garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes de cultura” (Art. 225, Pa. IV).
Assim, é concedido ao cidadão, seja local ou planetário, o direito de dominar a codificação da palavra escrita como “ferramenta para compreender o mundo”. Portanto, trabalhar e lutar contra o analfabetismo constitui-se em práticas cidadãs.
            Os avanços implementados pelo Estado e pela sociedade brasileira, no que se refere à diminuição das taxas de analfabetismo, são inegáveis. Mesmo assim, os números das estatísticas ainda são motivos de vergonha nacional. Números que não levam em conta os chamados analfabetos funcionais, aqueles que lêem e escrevem, mas não conseguem entender o texto lido e não transformam o que pensam em escrita.
            Em nosso país é voz corrente que o brasileiro não gosta de ler. Paradoxalmente aqui se encontra o segundo maior parque gráfico da América. Guardando a relatividade da primeira afirmativa, a mesma possui fundo de verdade.
            Observando o passado colonial, imperial e das primeiras décadas da república, a Terra Brasilis constituía-se em verdadeiras sociedades de analfabetos, em proporções equivalentes às sociedades européias medievais.
            Mas o que teria gerado o contragosto, a ojeriza do nosso povo pela palavra impressa, além de fatores históricos? As telinhas eletrônicas com suas mensagens e informações superficiais, apresentadas no ritmo de 300 km por hora, estimulando a preguiça mental coletiva? Os preços das publicações, incompatíveis com o nível de renda da maioria da população? A falta de tempo gerada pelo ritmo alucinante da vida urbana contemporânea? A escola, que não estimula o suficiente ou corretamente as nossas crianças e jovens ao hábito saudável da busca do entretenimento, da informação e do conhecimento através do texto impresso?  A falta de incentivo e de exemplo no ambiente familiar? Perguntas para a reflexão.
            Por motivos óbvios, a escola é um espaço por excelência para o desenvolvimento do gosto pela leitura e pela escrita, embora não seja a única responsável por tão grandiosa tarefa.
            Neste sentido, muitos educadores vêm realizando experiências com resultados excelentes. Conseguiram romper com o exclusivismo do livro didático e do romance, enquanto leituras do processo de ensino\aprendizagem. O princípio básico dessas experiências é o respeito aos múltiplos gostos e interesses dos estudantes, sejam crianças e adolescentes ou jovens e adultos.
            Crianças na fase da alfabetização são apresentadas aos livros infantis; jovens de famílias com acentuada cultura religiosa são estimulados a lerem obras compatíveis com suas crenças; adolescentes românticos/as são induzidos/as a apreciarem poesias e contos do gênero; jovens extrovertidos se identificam com o cordel ou com livretos de anedotas; os aventureiros folheiam revistas em quadrinhos e livros de ficção científica; os desportistas são induzidos a mergulharem os narizes nas revistas e cadernos de jornais especializados em esportes; garotas que realizam atividades domésticas consultam livros de receitas de culinária; alunos que participam de cursos profissionalizantes buscam utilidade em fascículos técnicos. E assim por diante.
            Utilizando como base os diversos gêneros e temas de textos impressos, os educadores incentivam seus alunos a produzirem seus próprios textos baseados nas experiências das leituras, como meio de fixarem na mente e democratizarem as experiências pessoais para os demais colegas, além de ampliarem a capacidade de escrever.
            As redações podem ser lidas na sala de aula, motivando a desinibição no falar em público e a prática da leitura fluente.
            Outro recurso que ajuda a instigar estudantes ao gosto pela leitura é a criação de murais que se constituirão em espaços democráticos, contemplando os seus diversos interesses e motivações, contendo as mais diversas temáticas, levando em conta o contexto social e cultural da comunidade na qual a escola se insere. A garotada expõe, em secções específicas, seus trabalhos escolares; recortes de matérias de jornais e revistas, seguidos de comentários próprios; poemas e recadinhos; protestos e sugestões, entre tantas outras contribuições. O mural é um espaço interativo, de estímulo constante na busca do conhecimento através das práticas da leitura e da escrita. 
            A promoção de feiras de leitura na escola é outra atividade recomendável, quando ocorrem trocas de livros e impressos das mais variadas formas e gêneros. São ainda organizados concursos de redações, contos, poesias e outros escritos. Eventos como esses movimentam positivamente a escola, eletrizando a estudantada e animando os professores.
            O maior volume e aprofundamento do conhecimento encontram-se no texto impresso, nos livros. Quem possui o hábito da leitura, raciocina mais rápido, tem mais conhecimentos, idéias e criatividade, adquire riqueza vocabular e fala com mais elegância, escreve com mais fluência, enfim, se torna mais inteligente. Portanto, os educadores não devem medir esforços no sentido de estimular as novas gerações a irem adquirindo o gosto pela leitura e pela escrita.
Ler é descobrir universos, desvendar segredos da existência, aprender a história que a vida não para de escrever.

*Artigo publicado no Jornal da Cidade de 01 ago. 2002. Cad. B, pg. 06. Revisado em 10 out. 2010.  
** Licenciado em História pela UFS e professor das redes públicas estadual (SEED) e municipal (SEMED/PMA)
  

sábado, 12 de novembro de 2011

Os saberes do professor de História*

Antônio Wanderley de Melo Corrêa**

                         É excitante e ingrata a condição de professor de História, e ambas as sensações ocorrem pela infinidade de conhecimentos e conteúdos que se tem que dominar e transmitir, não somente históricos de muitos grupos humanos e povos em todos os tempos, mas também de outras ciências afins ou “auxiliares” da História. Acrescentando-se a isso, o conhecimento de teorias e práticas antigas e atuais no campo da Didática e da Pedagogia. Tamanho desafio acabrunha e/ou estimula o professor de História.
            Lembra Paulo Freire: “Nada que experimentei em minha atividade docente deve necessariamente repetir-se” [FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 55], aludindo à necessidade constante de auto-aperfeiçoamento, reflexão e evolução das práticas educativas do professor, levando em conta a permanente transformação da realidade e as consequentes novas demandas e desafios da educação.
             O estudo é, ou deveria ser, atividade inerente ao educador, afinal não há ensino sem pesquisa. “O que há de pesquisador no professor não é uma qualidade [...]. Fazem parte da natureza da prática educativa docente a indagação, a busca, a pesquisa”. [FREIRE: 1998: p. 32].
            Existem muitos casos de professores de História que se encontram desatualizados, ou seja, mal informados ou repetitivos. Consequência do avanço constante da ciência histórica e da falta de estudo permanente. Mas estudar o quê? Já que “tudo é História”? Devem existir critérios de seleção no que se refere ao pesquisar, o que é fundamental e mais interessante para o professor e seus alunos.
            O conhecimento é como o universo, infinito e em constante expansão, mesmo em se tratando de uma área específica e compreendendo o conhecimento histórico como o mínimo de que realmente aconteceu.
            Além dos conhecimentos fundamentais sobre os grupos e povos do passado, de suas criações e transformações políticas, sociais, econômicas, culturais (artísticas, gráficas, de costumes, religiosas e tecnológicas). É imprescindível o professor de História adquirir conhecimentos geográficos e dominar, com desenvoltura, a leitura cartográfica enquanto fatores indispensáveis para a compreensão geopolítica do processo histórico e para situar seus alunos no “palco da História”, localizando e identificando as peculiaridades físico-ambientais das áreas ocupadas pelos povos ao longo do tempo.
            O conhecimento adquirido pelo profissional de ensino da História durante a sua vida acadêmica não é o bastante. Este é ponto de partida, logo, é imperioso o esforço de o mesmo se manter informado sobre novas descobertas de fontes históricas e de publicações recentes de sínteses  históricas (pesquisas produzidas por historiadores), acompanhar, na medida do possível, o desenvolvimento das ciências afins, a saber: Arqueologia, Antropologia, Geografia, Sociologia, entre outras.
            A busca de novos e antigos paradigmas didático-pedagógicos também se faz imensamente necessária à prática educativa. A teoria ilumina o caminho profissional e ajuda a organizar a prática educativa. O professor não ensina por ensinar, mas sim, educa para algum objetivo político-ideológico, tendo consciência disso ou não. O professor não forma autômatos, e sim ajuda pessoas na busca de serem livres e felizes. Daí a importância da escolha de uma fundamentação teórica e metodológica para a sua prática de educador e de estudioso do conhecimento histórico. A opção teórica do profissional da educação deve levar em conta a realidade social e psicológica de seus alunos, pois é muito difícil educar pessoas sem a compreensão de como elas pensam e em que pensam, quais são as suas atuais tendências mentais e comportamentais. Novas demandas que implicam novos desafios, que por sua vez implicam na busca de novos conhecimentos e estratégicas didático-pedagógicas.
            O professor de História (e das outras áreas do conhecimento) não pode perder de vista o domínio de novas tecnologias, a exemplo da informática. Como é sabido, o computador vem se tornando ferramenta indispensável tanto para o ensino como para a pesquisa. Sem sair de casa ou da escola, o professor pode adquirir informações transmitidas de universidades, bibliotecas, museus e arquivos nacionais e internacionais. Ter acesso a sítios com hipertextos, bibliografias, documentos. [Sobre o assunto ver: FIGEUIREDEO, Luciano R. História e Informática: O Uso do Computador. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. P. 419 – 439]. Criar blogs, participar de redes sociais com seus afins, além do uso trivial para a produção de textos, avaliações, fichas, cartazes, planejamento, etc.
            Como foi exposto, a gama e o volume de conhecimentos que o professor de História deve dominar é enorme. O tempo que o profissional da educação dispõe é diminuto devido à sobrecarga de trabalho à qual é submetido, como meio de compensar os péssimos salários da profissão do magistério. E cada um faz o que quer ou pode com o seu tempo. Muitas vezes é uma questão de escolha. Quem procura tempo encontra tempo. Os que buscam o conhecimento conhecem; quem busca o novo se renova.
            A autoridade do professor é baseada na sua competência: “autoridade exercida com indiscutível sabedoria, “[...] a incompetência desqualifica a autoridade do professor” [FREIRE; 1996: p. 102-103], que não pode ser baseada no autoritarismo ou na improvisação precária.
            A competência do professor, enquanto construção permanente baseia-se na sua formação técnica ou acadêmica, na empiria de ano após ano de trabalho educativo, na pesquisa individual ou em eventos coletivos de aperfeiçoamento, no compromisso ético de educar desaguando no prazer da descoberta, no sentimento confortável do dever cumprido dentro de suas limitações, quando não as superando. No orgulho de enfrentar e vencer desafios e na humildade de saber que nada sabe, afinal tudo está para ser conhecido e compreendido. Dezenas de anos de trabalho a fio não são mais que um dia.

 (*) Fonte: Jornal Cinform. Aracaju, 06 a 12 jun. 2005. P. 04. Revisado em set. de 2011.
 (**) Licenciado em História pela UFS e professor da SEED e da SEMED/PMA.

sábado, 5 de novembro de 2011

Livros de cordel e cordelistas sergipanos

A produção literária em livretos de cordel é rica em Sergipe. Em várias feiras do interior e no Mercado Central A de Aracaju existem poetas populares vendendo suas obras.
Originalmente esses livretos mediam 16x11 cm, tinha dimensões de livros de bolso. A grande maioria das capas trazia um desenho, o título e o nome do autor impressos em xilogravura. Todas as páginas são numeradas e variam de 8, 16 e 32. As composições são também variadas: sextilhas, sétimas, oitavas e décimas. O que realmente importa é a rima, mesmo o poeta usando falsos ditongos como sílaba única. A composição rítmica de uma história é a mesma do começo ao fim.
As temáticas da literatura de cordel são extremamente amplas e variadas: o cangaço, a política, o amor, o crime, fatos sobrenaturais, fantasias, valentia.
Na atualidade, os livretos são produzidos em gráficas, ocorrendo transformações nos seus projetos gráficos (formato, tipo de papel, cores, confecção da capa). Além disso, existe uma maior diversificação das temáticas: educação, formação política, biografias de personalidades, avanços científicos e tecnológicos, esportes, acontecimentos contemporâneos, entre outros.
Alguns dos mais conhecidos cordelistas de Sergipe são: Pedro Alves da Silva, Manoel de Almeida Filho, José Marins dos Santos, Severino Milanez, José Pacheco, Manoel Serafim, João José Silva, João Ferreira da Silva, Zezé de Boquim, Gilmar Santana, Severino José, Ronaldo Dórea Dantas, João Firmino Cabral, Zé Antônio dos Santos, entre outros.

sábado, 29 de outubro de 2011

A Lei 10.639/03 uma atitude de coragem!



Marcos Vinicius Melo dos Anjos[1]

Pensar o Brasil sem pensar na diversidade que esse país possui, é no mínimo estar fora de sintonia com o processo histórico de importância impar nesses 500 anos. Sabemos que durante esse processo, muitas injustiças e distorções sociais foram cometidas. Fazer de conta que essa diversidade foi construída com da força bruta usada na mão-de-obra dos carnavais e alguns aspectos culturais, sem conhecer a amplitude da força étnica dos povos que constituíram o nosso país, reforça a idéia de que tudo neste país acaba em festa.

Entender diversidade e multiculturalismo passa necessariamente pelo estudo e compreensão da importância dos grupos étnicos que, de forma decisiva, construíram nossa história. Entendemos que a formação do nosso povo, teve a participação decisiva do povo negro, que em muitos momentos da história, não teve o devido respeito e valoração, passaram por tortura física e psicológica, fato que, infelizmente por muito tempo foi olhado por “vistas grossas”.

O Brasil, historicamente falando, foi palco evidente de uma das características do sistema capitalista: a desigualdade econômica. É comum nas aulas de história ou geografia brasileira, ouvir o professor abordar sobre o sistema colonial que, serviu de justificativa para introduzir a escravidão como ferramenta na produção. Inicialmente os colonizadores usaram o poder de controle e de guerra contra os nativos brasileiros. Dando origem a uma série de guerras, conseqüentemente com inúmeras mortes dos índios alem da implantação das missões jesuíticas.

Como a pratica adotada contra os nativos, não garantiu efetivamente Mão-de-obra para suas lavouras, foi utilizado outro recurso não menos esdrúxulo, a escravização de uma etnia. Como os portugueses da época em questão, mantinham relações comerciais na costa africana, influenciaram a manutenção das guerras tribais e promovendo o lucro no trafico de seres humanos. Portanto, muitos africanos, foram trazidos na condição de escravos para servir de força de trabalho aos colonizadores do Brasil.

A luta de resistência a essa situação absurda na história foi constante com fugas, formação de quilombos, ate mesmo fazendo controle de natalidade. Fato é que elementos da cultura africana foram perpetuados, possibilitando assim a manutenção de uma cultura rica em vários aspectos. Embora durante toda a história do povo negro no Brasil a discriminação e o preconceito sempre estivem presentes. É inegável que as oportunidades e possibilidade de igualdade para a etnia africana e seus descendentes sempre foram mínimos. Promovendo um desequilíbrio social, econômico, religioso que chegaram ate os nossos dias.

Desde a década de 1950, movimentos populares em defesa da igualdade para o povo negro no Brasil, tomaram força. Em vários seguimentos sociais a presença do negro tornou evidente que precisava promover uma política de igualdade etnicorracial que oportunizasse um novo olhar da sociedade para com os negros e afro-descendentes. Um Brasil negro se levantava exigindo uma política de reparação e de igualdade em todas as esferas da sociedade.

A pressão popular, especialmente do movimento negro no Brasil, criou condições para o surgimento de uma legislação que tivesse por intuito, promover uma Educação para as Relações étnicorraciais, que tem como objetivo provocar uma reflexão social sobre o tema e possibilitar uma mudança comportamental. Questões como preconceito e racismo, valoração e reparação foram trazidas para o currículo escolar através da Lei 10.639/03.

Em 2003, o Governo Federal sancionou a Lei 10.639, que determina a inclusão de conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo da educação básica. Essa atitude, de grande coragem e determinação, é de uma dimensão impressionante, desde que aplicada de forma correta. Promover uma reflexão no âmbito escolar, dando o devido valor a etnia negra, é um projeto de mudança de valores e mentalidades, para criar novas gerações verdadeiramente favoráveis a diversidade e um respeito às questões étnico cultural.

A presença da Lei 10.639/03 na sociedade dando ênfase ao viés educacional traz a baila um efervescente debate envolvendo diversos setores da sociedade, a exemplo do Movimento Negro, Ministério Público, Secretarias de Educação até Conselhos de Educação. Dessa forma algumas considerações devem ser feitas a cerca da temática, para que essa Lei, a exemplo de outras não se torne uma “letra morta”. Promover o esclarecimento a sociedade como um todo sobre a existência da mesma torna-se obrigação em primeira instância do Poder Público instituído.

Procuraremos nesse breve artigo promover, de forma equilibrada, algumas considerações sobre a Educação nas Relações etnicorraciais, com o propósito de inquietar sobre ações necessárias e possíveis para a institucionalização da lei 10.639/03.

Sabemos que o primeiro aspecto a considerar é esclarecer o significado da Lei, o que realmente ela propõe para a efetivação da temática. Uma das dúvidas mais freqüentes é com relação à implantação de conteúdos ou disciplina na escola. Para ajudar a dirimir essa questão, a Lei determina a inserção de conteúdos sobre a História e Cultura Afro-Brasileira e Africana preferencialmente nas áreas de Educação Artística (Artes), Literatura e História Brasileira. Mas vale frisar que as demais áreas do conhecimento devem se envolver no processo de institucionalização.

Outrossim, a temática Educação nas Relações etnicorraciais deve perpassar pelas disciplinas, como um olhar de valoração a história, cultura, religiões de matriz africana como elementos de construção da diversidade brasileira. Essa pratica deve incorporar uma abordagem clara e desprovida de conceitos errônea sobre a presença do negro na sociedade brasileira.

No Estado de Sergipe, a questão da Educação nas Relações etnicorraciais, vem sendo discutidas por varias instituições e diversos setores da sociedade civil organizada. Recentemente, foi instituído o Fórum Permanente de Educação e Diversidade Etnicorracial, composto por instituições governamentais e do movimento populares. A proposta de atuação do mesmo é o acompanhamento de ações efetivas que contribuam na construção de uma sociedade livre de preconceitos e discriminação.

 Outro aspecto que pode ajudar na Institucionalização da Lei 10.639/03, é a implantação do Programa de Ações Afirmativas (P.A.F.), pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), depois de um amplo debate capitaneado pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro (NEAB). Uma das ações do P.A.F. foi garantir o ingresso aos cursos de graduação através do sistema de cotas, que determina que 50% das vagas estejam reservadas para estudantes oriundos das Redes Públicas. Dentro desse percentual, 70% se destinam as pessoas que se declararem negros ou afrodescendentes.

A institucionalização do sistema de cotas, por parte da UFS, com certeza desencadeara uma forma de diferenciada de abordar as questões de Educação nas Relações Etnicorraciais nas escolas. Questões sobre o que é ser negro em um país de uma diversidade impar, porém que, ainda demonstra traços de preconceito e discriminação racial. Debates sobre oportunidades iguais para todos, ou sobre a importância de se reconhecer como negro ou Afro-descente, possibilitam a um pensar mais inclusivo.

Segundo Abdias Nascimento “as feridas da discriminação racial se exibem ao mais superficial olhar sobre a realidade do país”, pensando dessa forma em todos os espaços de relações sociais, de forma sutil ou extremamente evidente, podemos observar ações que refletem a necessidade de abordar as Relações Etnicorraciais como forma de buscar uma convivência harmônica e dando a todos as mesmas oportunidades.

Outrossim, a Escola como instituição regida por programas e orientações governamentais, não escapa de um olhar mais apurado. Sendo a Lei 10.639/03, uma determinação governamental, nada mais lógico que esse mesmo governo busque alternativas para a efetiva institucionalização da mesma, ate como forma de dar exemplo para todas as outras esferas educativas. O Governo Federal através do Ministério da Educação (MEC) e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), vêm promovendo em todo o país ações concretas na implementação a lei acima citada.
A Secretaria da Educação do Estado de Sergipe (SEED), através do Núcleo da Educação, da Diversidade e Cidadania (NEDIC), possui ações voltadas para os professores em suas Diretorias Regionais de Educação (DREs), essas se efetivam com a realização de fóruns, encontros pedagógicos e acompanhamento de projetos escolares que contemplam a diversidade na promoção da educação para as relações etnicorraciais nas unidades de ensino. Em tempo, a SEED, através do NEDIC, publicou o livro “As Relações Étnico-Raciais: História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica de Sergipe”. Trata-se de um manual que alem de conter a legislação sobre a aplicabilidade da lei 10.639/03, conta com artigos sobre a temática, sugestões metodológicas para os docentes como também indicações de livros, filmes, sites e musicas para o trabalho sem ala de aula.

Sabemos dos aspectos positivos que as ações que vem sendo desenvolvidas, seja pelo poder público ou pela sociedade civil, estão contribuindo para a promoção da igualdade etnicorracial através da Lei 10.639/03. Devemos salientar que estamos tratando de uma mudança comportamental, uma mudança no olhar para um contexto social com suas singularidades e diversidade.

Entendemos então que a Lei 10.639/03 é uma atitude de coragem, em um país que todos se declaram não racistas, mas que admitem que o racismo exista em varias formas e níveis.  Devemos entendê-la então, como um compromisso social, um compromisso moral. Onde a reparação e as oportunidades estejam presentes no dia a dia. Buscar a convivência sem preconceitos e discriminações, e um dever de todos que por mais que uns não percebam todos nós, com poucas exceções, somos Afro-decendentes.

Essas mudanças se efetivada de forma correta estarão contribuindo na construção um país mais justo, que ofereça a todos a igualdade que a constituição assegura. Dessa forma teremos a valoração à diversidade brasileira, que é impar no mundo, nos fazendo orgulhosos de vivermos em um país igual e justo para todos que aqui habita.  


[1] Licenciado em História pela UFS, professor da Rede Estadual da Educação, desempenhando trabalho de Técnico no Núcleo de Educação, da Diversidade e Cidadania, professor da Faculdade São Luis de França e co-autor dos livros: História de Sergipe para Vestibulares e Outros Concursos, Sergipe Nossa Geografia, Sergipe Nossa História, Sergipe Sociedade e Cultura e Sergipe Nosso Estado.  

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

NOVEMBRO NEGRO 2011

Educação, Cultura, Arte e Direitos Humanos, de 07 de novembro a 15 de Dezembro.

Participe do 5º Seminário Educação, Cultura, Arte e Direitos Humanos e do
3º Seminário Educação para as Relações Étnico-Raciais na Faculdade São Luís de França.



































Confira programação e faça sua inscrição no site:  www.fslf.com.br

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O livro didático “Sergipe Nosso Estado”


Edições Sergipecultura é uma equipe de professores que produzem livros didáticos e paradidáticos específicos sobre Sergipe nas áreas de História, Geografia/Meio Ambiente e Cultura desde 2002.
Agora, em outubro de 2011, estamos lançando mais um título: “Sergipe Nosso Estado”, para o ensino fundamental. O sucessor de “Sergipe Nossa História” e “Sergipe Nossa Geografia” publicados entre 2005 e 2011.
Os textos desses livros foram revisados, atualizados e ampliados, além de terem sido acrescentados conteúdos sobre os aspectos mais significativos sobre a cultura sergipana.
Sergipe Nosso Estado” - SNE contém 40 capítulos: 18 sobre a História de Sergipe distribuídos em quatro Unidades; 13 sobre a Geografia de Sergipe em quatro Unidades e nove sobre a Cultura sergipana na última unidade. O livro tem dimensões 27,5cm x 20,5cm, 220 páginas com brochura espiralada e miolo colorido.
Ao final de cada capítulo existe a secção “Fazendo e Aprendendo” com atividades práticas procurando estimular o raciocínio, a criatividade e a busca do conhecimento.
Nosso livro é fundamentado em uma bibliografia sólida de aproximadamente 250 Referências que há anos vem sendo estudada exaustivamente.
            Os autores são sergipanos, profissionais das disciplinas citadas, com uma média de 25 anos de experiência na área da educação nas redes públicas e particular.
            Os objetivos de SNE são: cumprir a Constituição do Estado de Sergipe (Art. 215, VIII Princípio da Educação) transmitir informações específicas sobre o local, contribuir para o fortalecimento do sentimento da sergipanidade/pertencimento e contemplar as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que tornam obrigatório o estudo da História e da Cultura Afro-Brasileira e Indígena, respectivamente.
A distribuição de SNE para as livrarias e papelarias acontecerá a partir da segunda semana de novembro. Garantimos que não faltará exemplares nos estabelecimentos comerciais citados, em virtude do livro ser impresso em Aracaju por uma editora (Infographic’s Gráfica e Editora) com serviços gráficos de alto padrão de qualidade, agilidade e profissionalismo. Além de termos contato direto e aproximação com as livrarias/papelarias de Aracaju e dos centros regionais do interior sergipano.
Por fim, informamos que em 2012 Edições Sergipecultura lançará os primeiros títulos da Coleção “Meu Papagaio” de livros paradidáticos infantis, como sempre, com temáticas e/ou ambientação locais.

Realizando Excursões Pedagógicas*




Antônio Wanderley de Melo Corrêa**

            Quando um professor decide realizar uma excursão pedagógica a um museu, cidade histórica, reserva ecológica, zoológico, exposição, empresa, entre outros, é importante realizar um pequeno projeto que contenha objetivos, público alvo, recursos humanos e materiais, programação, metodologia e avaliação. O projeto expõe com clareza para o próprio professor e para as outras pessoas direta e indiretamente envolvidas - alunos, pais, coordenador pedagógico, diretores - o que, como e porque aquela atividade vai acontecer.
            O evento deve ser articulado por meio de contatos com pessoas-referências do local a ser visitado mediante ofícios e contatos pessoais e/ou telefônicos. Tudo com antecedência de, no mínimo, uma semana.
            Na comunicação para a comunidade escolar, além de reuniões com a coordenação pedagógica e com a direção, são recomendáveis a produção e distribuição de um folder que contenha informações básicas e úteis: data, horário, local e objetivos da atividade, além de uma ficha para a assinatura dos pais ou responsáveis de cada estudante, autorizando a participação de cada aluno, em se tratando de menores de idade. Nessas informações prévias, é importante incluir o material que cada aluno deverá ou não levar. Por exemplo: máquina fotográfica/filmadora, caderno ou caderneta de campo, lanche, dinheiro para refeições, entre outros.
            É fundamental que os alunos saibam, com antecedência, a maneira pela qual serão avaliados ao participarem da excursão.
            No dia do evento, os professores os alunos e o transporte deverão estar no local determinado para a saída, na escola de preferência, trinta minutos antes do horário previsto. Esse “rigor” evita atrasos que podem comprometer seriamente o evento.
            Mesmo quando o local a ser visitado contar com a presença de um guia, é interessante que os professores conheçam previamente o local para obter informações sobre o mesmo. Ou mesmo pesquisar na internet, para, no momento oportuno poder dar informações complementares às do guia. Saber também o itinerário, o tempo de translado para programar a duração da visita.
            Neste gênero de atividade educativa, não é recomendável conduzir grande quantidade de estudantes. Caso não seja possível limitar a excursão a uma turma, se faz necessário ao professor que organizou o evento, pedir a ajuda de outros colegas que ministram disciplinas afins para conduzir a estudantada.
            Durante a atividade é fundamental a manutenção da disciplina, afinal todos estão em aula (de campo), participando de atividade educativa. Portanto, dispersões, correrias e comilanças fora de hora devem ser evitadas através de advertências prévias.
            Os educadores devem estimular os alunos a ficarem de olhos e ouvidos atentos e anotarem perguntas quando surgirem dúvidas ou curiosidades. É necessário convencê-los a não entrarem na paranóia do “anotar tudo”. Porque tal atitude é ingrata e impraticável e cria ansiedade, confusão e frustração.
            Durante o percurso de ida e de volta, bem como no intervalo para o lanche, os professores podem estimular expressões lúdicas, a exemplo de cantar músicas, fazer dinâmicas de grupo e outras brincadeiras saudáveis, contribuído para uma maior sociabilidade e confirmando afetividades.
            Após a excursão, os professores podem avaliar os estudantes participantes aplicando questionário com perguntas do tipo: Quais eram suas expectativas? O que mais lhe agradou e chamou a sua atenção? Exponha os conhecimentos que você adquiriu. Faça suas críticas e dê suas sugestões.
             Os alunos podem ainda serem avaliados por meio de atividades em grupo para debates, construções de maquete, ou murais que contendo fotos legendadas, mapas, textos, cartazes. Esses últimos a serem expostos para toda a escola. Eles ficarão orgulhosos e confiantes.
            Um relatório por escrito sobre a excursão e entregue à coordenação pedagógica e à direção, registra a atividade para a memória da escola e demonstra objetividade e fortalece o profissionalismo dos/as professores/as envolvidos/as.

(*) Este artigo foi publicado pelo Jornal da Cidade em 23 nov. 1999. Caderno B. pg. 06 e revisado pelo autor em out. 2010.
(**) Licenciado em História pela UFS e professor das redes públicas estadual (SEED) e municipal (SEMED/PMA).

sábado, 22 de outubro de 2011

O livro "História de Sergipe Para Vestibulares e Outros Concursos - 2ª Edição"

Em 2003 lançamos a primeira edição de História de Sergipe para Vestibulares e Outros Concursos. O livro foi um sucesso, 7.000 exemplares adquiridos. Motivo de grande alegria para nós, pelo sentimento agradável de termos contribuído para a democratização de conhecimentos sobre a História de Sergipe e de ter ajudado modestamente a muitos concidadãos a obterem êxito em vestibulares e concursos públicos.
Em 2010 resolvemos partir para uma reforma do livro e publicá-lo em uma segunda edição revisada, atualizada e ampliada.
História de Sergipe para Vestibulares e Outros Concursos – 2ª Edição é dividido em três unidades, nas quais são apresentados conteúdos históricos específicos, da Pré-História à atualidade do século XXI.
Assim, História de Sergipe para Vestibulares e Outros Concursos – 2ª Edição é um recurso didático-pedagógico renovado para professores e estudantes do Ensino Médio, de cursos pré-universitários, candidatos a concursos públicos locais e ainda para quem têm interesse em absolver informações sobre o processo histórico da sociedade sergipana. Além de promover o conhecimento, este livro pretende contribui para a prática da cidadania e para fortalecer o sentimento de pertencimento.
Pretende também contribuir para o cumprimento da lei, como determina a Constituição do Estado de Sergipe, no seu Art. 215, VIII Princípio da Educação: “Nos programas das áreas de estudo das disciplinas Geografia, História e Literatura, será obrigatória a inclusão de conteúdos específicos sobre Sergipe”. Contempla as Leis 10.639/03 e 11.645/08 que tornam obrigatório o estudo da História e da Cultura Afro-Brasileira e Indígena, respectivamente.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Povo
Eça de Queiroz

Este poema, escrito no século XIX, retrata a realidade dos trabalhadores ante o triunfo da Revolução Industrial. As linhas a seguir desnudam as contradições do capitalismo, com suas gritantes desigualdades. A foto “Pés” de Sebastião Salgado também é dramaticamente poética.
Qualquer semelhança entre o texto de Queiroz e o presente ...   

Foto: Sebastião Salgado

Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos,
com divinas bondades de coração, com uma inteligência serena e lúcida,
com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, e que sofrem, e se lamentam em vão.
Estes homens são o Povo.

Estes homens, sob o peso do calor e do sol, transidos pelas chuvas e pelo frio, descalços, mal nutridos, lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida,
a sua força, para criar o pão, o alimento de todos.
Estes homens são o Povo, e são os que nos alimentam.

Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.
Estes homens são o Povo, e são os que nos vestem.

Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respirando mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.
Estes homens são o Povo, e são os que nos enriquecem.

Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da Pátria e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, a neve, a chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.
Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem.

Estes homens formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.
Estes homens são o Povo, e são os que nos servem.

E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem?

Primeiro despreza-os ao não pensar neles. Não vela por eles; trata-os como se tratam os bois; deixa-lhes apenas uma pequena porção dos seus trabalhos dolorosos; não lhes melhora a sorte, cerca-os de obstáculos e dificuldades; forma-lhes em redor uma servidão que os prende e uma miséria que os esmaga; não lhes dá proteção; e, terrível coisa, não os instrui: deixa-lhes morrer a alma.

É por isso que os que têm coração e alma, e amam a Justiça, devem lutar e combater pelo Povo. E ainda que não sejam escutados, tem na amizade dele uma consolação suprema.