Antônio Wanderley
O Cordel
é um gênero literário poético de origem popular, representando histórias
contadas em versos agrupados em estrofes, com rima e métrica (sete sílabas
poéticas), impressas em folhetos produzidos artesanalmente em papel barato ou
pela indústria gráfica, para serem lidos, contados ou cantados.
A
produção desses folhetos, em versos, retoma da Europa do século 16, durante o
movimento humanista ou renascentista, a partir da invenção da imprensa
(tipografias). Naquele tempo, o objetivo era resgatar e popularizar os relatos
orais ou manuscritos do cantar dos trovadores ou menestréis medievais.
As estrofes mais usadas eram as de seis
versos, as sextilhas, recitadas ou cantadas em forma cadenciada e melodiosa,
acompanhadas por violas. As temáticas, quase sempre, eram históricas, romances,
encantamento, narrativas e lendas.
Em
Portugal, nos séculos 18 e 19, havia o costume de os folhetos serem expostos à
venda, nas praças, feiras e mercados, pendurados em ‘cordéis’, termo de época
equivalente a cordão ou barbante da atualidade. As estampas das capas eram
impressas a partir de clichês metálicos contendo o título e a autoria da obra
e, às vezes, o nome do editor (proprietário da tipografia).
A partir de meados do século 19, essa
tradição aportou no Brasil. Os primeiros folhetos com versos rimados
(provavelmente manuscritos), com métrica de sete sílabas poéticas ou redondilha
maior, foram popularizados na Paraíba. Os primeiros poetas de destaque foram
Silvino Pirauá e Leandro Gomes de Barros, este último consagrado como o “Pai do
Cordel” e considerado “o primeiro sem segundo”. Esses e outros poetas sertanejos
migraram para Recife/PE com o objetivo de facilitar a impressão e a divulgação
de suas obras.
Do Nordeste, o Cordel espalhou-se pelo
Brasil, sendo levado para as outras regiões pelos migrantes.
Atualmente, os temas dos folhetos são
amplos: aspectos cotidianos, episódios históricos, temáticas nordestinas
(cangaço, seca, coronelismo, gesta do gado, Padre Cícero,...), biografias, lendas,
religiosidade, atualidades científicas e tecnológicas, fenômenos midiáticos,
vitórias esportivas ou eleitorais, aliados às temáticas tradicionais e
fantasiosas, que evocam romance, fantasia, encantamento, animismo, motes,
glosas, pelejas, personalidades regionais, entre outras.
Os
folhetos de Cordel são vendidos pelos folheteiros ou pelos próprios poetas
cordelistas, nas feiras livres e mercados. Também são vendidos em livrarias,
feiras de livros e instituições culturais.
Atualmente
a produção dos livretos conta com as possibilidades tecnológicas da indústria
gráfica, incluindo capas coloridas e formatos variados, não obstante, muitos
cordelistas preferirem produzir seus folhetos recorrendo à produção
“artesanal”: fotocópias de matrizes em papel A4 (para o miolo) e em papel ou
cartolina colorida para as capas, enquanto a diagramação é feita em programas
de edição de texto da informática.
Em
Sergipe, a Literatura de Cordel ganhou impulso com a chegada de um dos seus
maiores nomes a Aracaju, Manoel D’Almeida Filho, nos anos 1940. Durante quase
50 anos ele teve uma banca de venda de folhetos no Mercado Antônio Franco. Nos
anos 1950, João Firmino Cabral, aos 17 anos, tornou-se folheteiro do mestre
Manoel e também seu discípulo. Com a morte deste (1995), aquele se tornou a
maior referência do cordelismo sergipano, ambos fizeram escola, inspirando, incentivando
e arregimentando novas gerações de poetas populares.
Na
atualidade, as inovações temáticas, de diagramação, impressão e de
comercialização, publicações de obras na internet e o esforço de levar os
folhetos à escola são estratégias de sobrevivência e de propagação da Literatura
de Cordel.
[ Artigo publicado no Jornal
do Dia em 19 fev. 2014 ]
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